quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Umas Coisitas

'(...)Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’


(...) O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...


A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
(...) Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...' (O retorno e terno, p. 51.)



'O homem não vive só de pão e sexo: vive de beleza, de ternura, de sorrisos, de palavras, de gestos, de carinho.'




'A saudade é a fome da alma.'


Rubem Alves




"Há que ter alguma coragem. Há que ter algum sonho correndo nas veias e um grão de loucura faiscando na alma."
Lya Luft



*Sabes que ontem estava conversando com a Frazoca. E conversando sobre aqueles determinados momentos onde tu acha que as pessoas estão 'perdidas'. Obviamente, isso é um clichê demasiadamente usado. Mas não me vem outra expresssão à mente. No sentido de fazerem coisas que batem de frente com nossos valores. Tu fica um pouco pasma por ver o quanto isso está se tornando comum. Já é trivial. Mas cuidado galera. Não dá pra se acostumar com as coisas ruins, com o que nos destrói. Acho que tu ficar conivente com tudo te faz insensível. Te faz uma pessoa que não tá nem ai pra nada. O negócio é abrir as portas e meter o pé, tanto faz em que, e de que jeito, porque o que importa é ter espaço, é estar na mídia. Caramba. Eu não quero isso!

Eu não consigo desacreditar tanto assim das pessoas. Obviamente, algumas vezes me decepcionei, mas acredito que tudo faz parte de um processo que ás vezes só vemos mais adiante. Ou veremos ainda. Nada é por acaso. Além disso, há pessoas e personalidades de todos os tipos, e as vezes nosso primeiro olhar, preconceituoso, cria algumas coisas. O desconhecimento é sempre negativo.

*Bom, já saí do foco. Na verdade, uma coisa tem a ver com a outra. Tudo é interligado. Até porque eram acontecimentos que são particulares a alguns relacionamentos. E ai volto ao Rubem Alves. Retirei alguns trechos do texto, que são os que eu mais gosto. Mas o texto todo é bonito. Traz uma coisa boa, uma luz. De que ao mesmo tempo que acredito, sei que temos que empreender, assim como empreendemos em tudo na nosssa vida; os relacionamentos não estão a salvo disso, assim como no trabalho, estudo, família. Tudo nos exige. Relacionamentos pedem atenção, pedem carinho, pedem tempo, pedem paciência; pedem tudo. E se você não tem disposição, cai fora. Acho que a vida num todo nos pede. Não dá pra ficar esperando nada cair do céu. Seja gentil, seja educado. Faça acontecer. Busque. A vida tem muitas esferas. Conheça o maior número delas, ao menos aquelas que você acha interessantes. E escolha a sua. Reveja quando achar necessário, mas experimente. E nesse experimentar, não se perca... Não perca algumas coisas que lhe são caras... não perca a gentileza, a educação, as suas, mesmo que miúdas, certezas de que as pessoas ainda valem a pena! Até porque, em última instância, a gente vale!


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